1. Pilatos
e Jesus, frente a frente, num diálogo, que ficará, na história. De
um lado, o prefeito romano, pragmático, realista, respeitador da
liberdade religiosa, como era da praxe do direito romano. De outro
lado, está a figura ímpar de Jesus, homem despojado, um rei
desarmado, um réu inocente, acabado de ser declarado blasfemo, pelo
poder religioso, delito para o qual se previa a pena de morte. Mas
cabia ao poder romano, infligir a pena capital.
2. É
interessante, analisar, neste diálogo, o cuidado de Pilatos, em
ouvir Jesus, em escutar as suas razões, em conhecê-lo por dentro.
Talvez, por um certo medo supersticioso, Pilatos admitisse estar
perante uma qualquer divindade encarnada. E, por isso, ainda mais
assustado (Jo 19,8), julga o seu interlocutor com todo o cuidado! Mas
Jesus domina a conversa, tratando o seu interlocutor, com toda a
clareza e mansidão! E, até certo ponto, parece que também Pilatos
procura, com Jesus, a Verdade e o bem; parece que também ele se
deixa inquietar, por dentro, por essa busca comum, procurando uma
saída airosa, para aquele “em
quem não encontra crime algum”
(Jo.18,38)! Esta sincera busca da verdade será, depois, seriamente
comprometida, com o seu apego ao poder. O desejo de progredir
na carreira política
abafará a sua procura da verdade!
3. A
questão da “Verdade” é, pois, a grande inquietação de
Pilatos: «Que
é a verdade»,
perguntará (Jo.18,38). A pergunta ficou sem resposta, porque a
Verdade, não se apanha em nenhuma definição; a Verdade não se
deixa apropriar, por nenhum conceito, nem manipular, por nenhuma das
partes: à medida que a Verdade se revela, também se esconde,
lançando, de novo, o espírito humano, numa busca incessante, de
modo que não somos nós que possuímos a verdade; é a Verdade que
nos possui a nós. E esta “Verdade” está ali, frente a Pilatos,
que, de algum modo, a percebe, mas não quer ver, admitir, acolher.
Por isso, Jesus torna bem claro o domínio da sua realeza: “Para
isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade!
Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz"
(Jo 8, 37).
4. Mas
qual é a "verdade" que Cristo, veio testemunhar ao mundo?
Toda a sua existência revela que Deus é Amor: portanto, é esta a
verdade, da qual Ele deu testemunho pleno, com o sacrifício da
própria vida. Neste sentido, a Verdade é o verdadeiro Rei, que dá
a todas as coisas a sua luz e grandeza. E o "poder" deste
Rei é o poder do Amor, que, do mal, sabe obter o bem, enternecer um
coração endurecido, levar a paz ao conflito mais áspero, acender a
esperança, na escuridão mais cerrada.
5. É
necessário, pois, e sempre, que cada pessoa acolha livremente a
verdade do amor de Deus. Ele é Amor e Verdade! E, quer o amor, quer
a verdade, nunca se impõem: batem à porta do coração, e da nossa
mente e, onde podem entrar, trazem paz e alegria! Neste Ano
da Fé cabe-nos
propor Cristo, como verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Sem esta
verdade, o homem não se encontra a si mesmo e abandona o campo aos
mais fortes. Saibamos, pois, propor Cristo, no diálogo com os não
crentes, no diálogo com todos “os
que, embora não
reconhecendo em si mesmos o dom da fé, vivem todavia uma busca
sincera do sentido último e da verdade definitiva, acerca da sua
existência e do mundo”
(Bento XVI, Porta Fidei, 10). Saibamos ouvir as razões de quem não
crê e romper as razões da nossa fé, convictos de que afinal “é
por Jesus, que todos esperam” (Bento
XVI, Homilia, 14.05.2010). Caríssimos irmãos e irmãs: «Felizes
os que, possuindo a verdade, a procuram ainda, a fim de a renovar, de
a aprofundar, de a dar aos outros»
(Vaticano II, Mensagem, 8 de dezembro de 1965).
FONTE: http://www.abcdacatequese.com/index.php/evangelizacao/homilia-da-semana/2141-homilia-no-xxxiv-domingo-comum-b-solenidade-de-cristo-rei-2012
EDIÇÃO: PASCOM
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